o ano era 2009. tinha 25 anos. era início de namoro, e meu então namorado me convidou para sair com algumas amigas dele. foi ali que trocamos as primeiras palavras e risadas.

durante os cinco anos que me relacionei com o amigo dela, pouco nos vimos. fomos nos aproximar quando meu namoro com ele já caminhava para o fim.

o ano era 2014. tinha 30 anos. o namoro já não existia. incentivada por minha mãe — também para enfrentar a tristeza pós-término —, viajei com três amigas, nosso destino era a Europa, mais precisamente Inglaterra e França. dentre essas amigas, ela. das três, a com quem tinha menos contato, a que conhecia há menos tempo.

Paris. janeiro de 2015.

 

o ano era 2015. ainda com 30 anos, mas já de volta ao Brasil. depois daquela viagem, nossa amizade se fortaleceu e, desde então, vem se fortalecendo. a amiga de meu ex que se tornou uma de minhas melhores amigas.

2015, com a Van
2016

 

o ano é 2018. tenho 33 anos. minha amiga está se mudando para a Irlanda. por alguns meses, não nos encontraremos. por alguns meses, a distância geográfica será um empecilho. e, desde que a Natasha, outra de minhas melhoras amigas, mudou-se para o Goiás, não imaginava sentir essa dor de novo.

como disse à Paula, estou súper feliz pensando no quanto essa viagem lhe fará bem, todavia meu coração se aperta sempre que penso que ela não estará aqui para ir à temakeria comigo, ou para irmos ao karaokê, ou para falarmos de sapateado, ou para as idas ao cinema, ou para me abraçar quando meu coração estiver quebrado, ou para me fazer rir com alguma besteira, ou para me dar roupas que não lhe servem mais, ou para simplesmente sorrir para mim, olho no olho.

vá e voe, minha pesseguinho, que meu amor por você a alcança onde estiver.

(ainda bem que vivemos na era da internet, das videochamadas e das redes sociais. será menos difícil estar distante.)

te amo muito.

Este é um post de despedida

A você, leitora ou leitor, que me acompanha aqui no WordPress, escrevo este texto.

Migrei o blog Desafiando o Silêncio para meu perfil pessoal do Medium.
Espero que continue me seguindo lá.

Em breve, assim que copiar todo o conteúdo daqui, encerrarei esta conta.

Abraços apertados,
Daniela Veríssimo

Flores azuis

Era azul o artifício que reluzia atrás de você naquela noite em que a vi, sorrindo, na sacada. O álcool no meu sangue não me deixava entender direito a imagem. O brilho vinha de seu sorriso ou dos fogos? Um pouco tonta, deixei-me cair no sofá da sala e assistir a sua dança por entre a vidraça.
Pensei que dali a uns anos seria você a sentar-se no sofá para assistir à dança dos mais jovens. Talvez nessa mesma casa, talvez também num réveillon fora de época. Sim, réveillon porque a comemoração de aniversário é o réveillon pessoal de alguém.
Era o seu ali. Seus vinte e três anos, a flor da juventude representada na estampa de seu vestido.
Eram azuis as flores borradas na saia do vestido. Como pinceladas de um artista impressionista, de longe formavam uma imagem agradável, suave. Comentei com um homem que também assistia à cena que me sentia um tanto tonta e um tanto velha ao ver vocês ali, naquela dança despretensiosa como se nada mais importasse, como se não houvesse boletos e visitas a médicos, ressonâncias magnéticas e a necessidade de comer ao menos três refeições por dia.
Ardiam-me as têmporas com o prenúncio da enxaqueca. Ajeitei-me na almofada daquele sofá que tinha sido de nossa avó e continuei a ver a dança na sacada. Até que adormeci.
Eu não sabia, mas aquele homem a meu lado a conhecia bem mais do que eu supunha. Não eram apenas colegas de trabalho, como você disse ao nos apresentar. Era seu amante. Um homem que devia ter aproximadamente vinte anos a mais que você. Talvez um pouco mais. Lembro-me de ter pensado que aquele ar jovial já não combinava com a expressão cansada que os olhos atrás das lentes carregavam.
Quanto tempo durou esse romance? Três anos, você me respondeu quando, aflita, pediu para ficar uns dias em minha casa porque haviam rompido e, agora, ele a perseguia. Ele não sabe onde você mora, talvez aqui eu tenha um pouco de paz. Ainda escuto sua voz apavorada, vejo o medo exalando de todo o seu corpo. Lembro-me de sentir seu suor quando a abracei.
Sugeri que contasse a nossos pais, mas você temia uma represália. Sugeri que fizesse um boletim de ocorrência e seu riso debochado me denunciou que havia ali muito mais do que minha compreensão alcançava.
Foram dias correndo a seu quarto para livrá-la do terror noturno. Noites insones em que tentávamos não mencionar o nome do homem que a fazia assim. Com o passar do tempo, você me contava histórias cortadas que começavam a compor o quebra-cabeça de uma vida sua que parecia ser totalmente alheia à nossa.
Ele era de fato seu colega de trabalho. Era casado, pai de duas crianças. Você conhecia a esposa. Contive meu horror para que você não se sentisse mal, mas juro, Coralina, juro que não me conformava com nada daquilo. Você narrava suas aventuras sexuais e dores ciente de meu posicionamento acerca de tudo e confessava pelo olhar que também não concordava com as ações que praticara, sentia vergonha e não podia disfarçar. Eu, atônita, ouvia e lhe estendia os braços quando não havia mais o que dizer.
Foi quando você fez novo aniversário, quatro anos após aquele na sacada. Voltei do trabalho eufórica para lhe dar o livro que acabara de comprar, aquele de poesias que você queria, e a vi ali, corpo estirado na sala. Morta, Coralina, você estava morta.
Não lembro muito o que aconteceu naquele dia depois que a encontrei. Entrei em choque, disseram os médicos. O laudo dizia que você tinha sido morta, afastando o possível suicídio.
Demorei para me recompor, foram anos tentando assimilar sua morte, seu assassinato. Quem poderia ter feito tamanha crueldade? Eu sabia, você também.
Estou cansada, Coralina, mais cansada do que de costume. Cansada de lutar, cansada de respirar. Exausta, pra ser sincera.
E ainda hoje vi o rosto de seu assassino figurando o noticiário. Ele ganhou um prêmio por seu trabalho. Um prêmio, Coralina.
Toda a raiva do mundo reverbera agora em mim.
Preciso do silêncio.

Enfim, trinta e três

– Diga trinta e três. 
– Trinta e três… trinta e três… trinta e três… 
(Manuel Bandeira)

Enfim, trinta e três.

Uma semana depois, escrevo sobre aniversariar. Trinta e três anos, a idade de Cristo. Trinta e três anos, a idade da minha mãe quando nasci.

Enfim, trinta e três.

E comemorei meus trinta e três enquanto viajava, no dia exato, e depois de retornar, no último sábado. Foi ótimo! Estava cercada das pessoas mais próximas a mim agora, a maioria delas com quem compartilho meu dia a dia e meus medos, angústias; aquelas com quem danço, brinco e canto também.

Olhava para o lado e via duas de minhas amigas mais queridas perto daqueles que estão comigo há menos tempo, mas que já cativaram um pedacinho de lote aqui também. Via o ontem, o hoje e talvez o amanhã juntos, sorrindo e brindando.

A alegria de poder reunir afetos para, por algumas horas, não pensar em nada além de risos e brilho nos olhos é ímpar, e vale, sempre vale. Porque a vida vai nos trazer as preocupações cotidianas amanhã, ela não falha, mas naquele momento tudo pausa. Pausa porque sabemos ser necessário parar, pausa porque o carinho trocado supera as adversidades.

Enfim, trinta e três.

E como me sinto? Não muito madura, pra falar a verdade, mas com a certeza de que não tem como caminhar para trás na vida. As inseguranças, algumas permanecem, outras tomam outras formas com a dor, essa mesma dor fez com que uma força desconhecida viesse à tona, se manifestasse para que o medo fosse saindo de cena.

Alguns amores permanecem, em alguns pontos sou a mesma de anos passados, noutros me admiram as transformações que passei sem nem me dar conta, sem espaço para hesitar, sem receio de mudar.

Dizem que com o passar dos anos as coisas desimportantes começam a tomar o espaço devido em nós, ou seja, ficamos cada vez menos preocupados com superficialidades. Ainda não me vejo tão despreocupada quanto gostaria, inclusive tenho reconhecido em mim, agora, defeitos e preconceitos que não imaginava carregar, mas espero sinceramente que a versão 3.3 seja minha melhor versão até agora.

Enfim, trinta e três.

E que eu tenha ânimo para comemorar os próximos trinta e três, com todas as dores e delícias de ser quem sou.

revisores de texto, linguagem e preconceito linguístico: um breve desabafo

[Há três anos, escrevi este textinho no Facebook. Provavelmente, algo específico me fez desabafar, mas agora, distante do acontecimento, o texto ainda me serve. E espero que a vocês também.] 

Além de exercer o cargo de secretária numa das maiores universidades do país, vocês sabem que também trabalho com textos, logo, com linguagem.

Confesso ficar espantada com o preconceito linguístico aflorado entre pares de trabalho. Porque, para se trabalhar com linguagens, é essencial entender o mecanismo por trás de cada uma delas.

Sou revisora de textos. Isso faz de mim alguém acima de qualquer erro gramatical? NÃO, claro que não. Isso faz de mim alguém capaz de corrigir erros, inclusive meus, quando revisando, entretanto, não me faz perfeita.

Sou revisora de textos. Isso faz de mim alguém que deva falar como o Rui Barbosa? NÃO, PELO AMOR DE DEUS, NÃO! A revisão de textos é meu trabalho.

Quando estou trabalhando, faço o máximo para não errar e para alinhar o material revisado à linguagem proposta. Fora do trabalho, permito-me transitar pelas diversas possibilidades linguísticas existentes. Permito-me ir das gírias à formalidade, da não concordância ao que rege a norma culta.

Permito-me apoderar-me da língua como falante. Porque, antes de qualquer profissão que eu possa ter escolhido e, enfim, exercido, sou falante de língua portuguesa, e foi a paixão por essa língua que me fez querer estudá-la. Não foi o ódio ao “erro”, não foi a ambição de querer uma forma única e “pasteurizada” da língua.

Foi, sobretudo, o fascínio que as possibilidades em mim despertam. Foi a dança da linguagem, a vivacidade com que se apresenta no dia a dia.

Permitam-se, colegas. Permitam-se cair de amores pela língua portuguesa em suas diversas nuances. Isso é lindo, acreditem em mim!

vida adulta

Não tem jeito, todo outubro é a mesma coisa. Meu aniversário se aproxima e começo a entrar em crise. Não crise por envelhecer propriamente dizendo, mas aquela crise de me perguntar o que estou fazendo da minha vida.
 
Daqui a exatos 14 dias completo 33 anos. A idade de Cristo, uns dizem. Eu digo a idade da minha mãe quando nasci. Estou lendo Micheliny Verunschk, Nossa Teresa – vida e morte de uma santa suicida, e este trecho me fala muito alto: “[…] As duas que não engrossaram as fileiras do catecismo com rebentos a serem salvos foram Teresa e Lucinda. Uma, pelo inexorável do caminho que seguiu, caminho a que um poeta chamou tão bem pela alcunha de iniludível. A outra, porque mal terminou o colegial, acabou por mudar-se com a família para um grande centro onde fez a vida que muitas mulheres contemporâneas fazem: vida acadêmica, docência, boates e homens (e algumas mulheres) a granel, casamento tardio e filhos nem pensar, pois, graças a Deus, e isso é uma ironia que sai da boca dessa moça, nem todos nasceram para ovelha ou vaca parideira.”
 
Não, não nasci nem cresci numa cidadezinha hiper-religiosa, muito menos me mudei para um grande centro e segui carreira acadêmica, docência, etc., entretanto, sou solteira, não vislumbro casamento ou maternidade — esta ainda menos que aquele — e sou uma mulher adulta cuja maioria das amigas de colegial é casada com filhos.
 
Em todo período que antecede meu aniversário, pego-me pensando o que fiz da minha vida até aqui e o que posso fazer dela a partir de. A partir do próximo 23 de outubro, a partir do dia em que um novo ciclo solar inicia para mim. Nunca fui pessoa de muitos planos ou de grandes aspirações. Se me perguntarem um sonho, demorarei a responder, tentando encontrar alguma resposta que seja satisfatória e meio envergonhada por não tê-la na ponta da língua, de prontidão à espera da pergunta.
 
Gostaria que alguém me dissesse que se sentir totalmente perdida e um verdadeiro embuste na condição de adulto é normalíssimo. Gostaria ainda mais de saber isso desde a adolescência porque, embora nunca tenha sido pessoa de grandes planos e sonhos, lá atrás eu me imaginava alguém seguro, realizado, bem de vida, adulto aos 33 anos.
 
E agora estou aqui, de novo me perguntando quais os feitos realizei desde que deixei a adolescência e me tornei adulta. Me pergunto quando me tornei adulta de fato e o que deveria marcar essa transição. Me pergunto se um dia conseguirei ter uma casa organizada e bem decorada, se farei faxina semanalmente, se terei lençóis e roupas passadas, se farei minha própria comida. Me pergunto se conseguirei me mudar para um apartamento melhor, num andar alto, com sacada de onde eu veja a copa das árvores e me sinta à vontade em minha casa. Me pergunto se serei adulta de verdade algum dia.
 
Faço 33 daqui a duas semanas e me sinto uma garotinha perdida e amedrontada. Alguém, por favor, me diga que isso é normal, por mais triste que isso venha a ser.

4 de outubro

curiosidade sobre o dia 4 de outubro:

há exato um ano, decidi adotar Dandara. falei com a Sheila que ficaria com a gatinha que o Yohan encontrara no bueiro.
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era dia de São Francisco de Assis, mas nem me dera conta da coincidência.

Danda só veio para casa dia 8 de outubro, pois não quis trazê-la para um novo lugar e ter de deixá-la o dia todo sozinha, numa casa desconhecida e sem ninguém. peguei-a no fim de semana, quando poderia fazer companhia a minha nova gatinha.

mas era dia de São Francisco de Assis quando decidi que não moraria mais sozinha. a partir daquele 4 de outubro, Dandara já era Dandara, já era minha, já começava a ocupar os espaços onde planejava deixar seus pertences.

era dia de São Francisco de Assis. 

79 anos

meu pai faleceu em novembro de 1993, então com 55 anos.

se ainda estivesse encarnado, hoje, 28 de setembro de 2017, completaria 79 anos.

vivi apenas 9 anos com ele, hoje mal me lembro de sua imagem, a memória falha, tento buscar não sei onde na mente lembranças.

é estranho quando vivemos muito mais tempo sem a pessoa do que os anos em que estivemos juntos. nada previne a ação do tempo. meu pai se foi na minha infância, e já há muito não sou criança.

sempre me disseram que sou a cara dele, e eu mesma reconheço em mim traços físicos que me remetem a meu pai, mas hoje em dia também me dizem ser a cara de minha mãe. quanto mais envelheço, torno-me mais parecida com ela e menos com ele. gosto de saber que sou parecida também com ela, a matriarca, quem me educou e criou, quem me ensinou a escrever a partir do abecedário da xuxa, quem segurava a rosa vermelha à espera de minha entrada na formatura, quem chorou comigo todas as vezes em que meu coração se despedaçava.

no entanto, hoje é dia dele e meu pai está se apagando em mim.

às vezes, só queria ter podido lhe dar mais um abraço e dizer que o amava muito.